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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Esclarecimentos sobre as plantações de eucalipto no Brasil

Sebastião Renato Valverde
Professor de Política e Gestão Florestal do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG, valverde@ufv.br


No Brasil, sempre que se dá um boom na área plantada com eucalipto ou no seu mercado, coincidentemente reacendem acintosas críticas a ele e ao seu cultivo, a eucaliptocultura, vindas de pessoas e instituições quase sempre despreparadas para tal críticas.  É evidente e natural que muitas falhas e mazelas ocorreram na história da condução dos reflorestamentos no País, mas tudo reparável e dentro das conformidades da legislação da época. Entendemos a necessidade das críticas e do diálogo, fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, mas nos opomos a certas miopias e ao modo truculento que se tentam impor a rejeição aos plantios florestais. Apesar de sabermos que outras culturas (soja, cana, etc) também sofrem deste flagelo, aparentemente nada é tão desproporcional e descabido quanto as jurássicas e anacrônicas críticas sobre a eucaliptocultura. Triste é saber que elas são arbitrária, infundada, sem discernimento e desprovida de quaisquer critérios técnico e científico. Reconhecemos que existem críticos sérios e instituições de peso discutindo e apontando falhas nesta questão, o que é extremamente salutar para o setor continuar progredindo, o problema é o lado escuso e pejorativo disso que, muitas vezes, pode retardar o crescimento da área plantada, prejudicando os produtores rurais, que depois de longos períodos tenebrosos, vêm obtendo rendas com a venda da madeira. Por isso caro leitor, sabendo sobre todos os esforços enveredados ao longo destes mais de 40 anos de pesquisa florestal no Brasil para alcançar a forma mais sustentável de atender a demanda de nossa sociedade por produtos florestais é que, inegavelmente, não podemos nos omitir e aceitar pacificamente certas calúnias e ultrajes a tal espécie. Desta forma, buscando refletir sobre o que tem de positivo nestas críticas, evitando deixar se levar pela arrogância em que, circunstancial e estrategicamente, determinados indivíduos tentam de forma virulenta e autoritária impor suas opiniões, e sabendo o quanto as plantações de eucalipto são importantes para o desenvolvimento é que ousamos comentar, sobre tal assunto, no sentido de contribuir para que melhor se esclareça a população, mas ciente de que é impossível esgotar toda a matéria, dada as controvérsias, complexidades e polêmicas que lhe são peculiares.  Apesar disso, não serão os atentados à lógica e os desrespeitos à ciência, por parte de certos astutos, que inibirão os renomados especialistas na condução das suas investigações florestais, nem tampouco pelas ameaças bombásticas que o aumento das áreas de plantio com eucalipto vai deixar de ocorrer. Pois, se não foi na época dos incentivos fiscais ao reflorestamento, onde havia total carência de informações e conhecimentos sobre a atividade de reflorestamento, não vai ser agora, na era da competitividade florestal brasileira, com toda bagagem cientifica conquistada, que as histerias preconceituosas vão intimidar os atores do complexo florestal.Assim, antes de comentar pontualmente cada elemento das críticas, principalmente aqueles relacionados às questões sociais e econômicas, cabe ressaltar sobre a espécie, sua importância, seu histórico e a evolução das plantações, do setor, do mercado, da política, dos produtos e das indústrias florestais, para melhor entender as razões e as justificativas de nossa postura como defensor dos interesses do setor florestal e do bom manejo das plantações de eucalipto no Brasil.O eucalipto é uma espécie arbórea pertencente à família das Mirtáceas e nativa, principalmente, da Austrália. São mais de 670 espécies conhecidas apropriadas para cada finalidade da madeira. No Brasil, seu cultivo em escala econômica deu-se a partir de 1904, com o trabalho do agrônomo silvicultor Edmundo Navarro de Andrade, para atender a demanda da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Mais precisamente a partir de 1965, com a lei dos incentivos fiscais ao reflorestamento que durou até 1988, sua área de plantio no Brasil aumentou de 500 mil para 3 milhões de hectares.Estes incentivos, mesmo sob as limitações da época, contribuíram para uma maior participação do setor no PIB nacional, na geração de emprego, renda, impostos, divisas e infra-estrutura. Sob o aspecto ambiental, vale ressaltar a diminuição na pressão sobre as florestas nativas, proteção da fauna, flora, água, solos, etc.No que tange ao mercado florestal, este tem melhorado substancialmente devido ao crescimento da economia dos BRICs. Em função do rápido crescimento das plantações de eucalipto, que atingem produtividades cerca de 10 vezes superiores às dos países líderes deste mercado, o Brasil vem ganhando posições de destaque no mercado. Vários estudos têm comprovado estes ganhos de competitividade da indústria florestal (celulose, chapas e serrados), em detrimento dos países tradicionais. Os projetos de reflorestamento, independente da espécie plantada, caracterizam-se pelo elevado risco, técnico e econômico, a que estão sujeitos. Na maioria das vezes, estes riscos estão associados ao longo prazo, onde tudo se torna possível de ocorrer, como incêndios, pragas, doenças, sinistros, volatilidades de mercado e preços, afetando a viabilidade e a atratividade destes projetos.Outra característica negativa deste tipo de projeto é o preço ainda baixo do produto florestal (madeira), em razão da existência de uma condição de mercado onde a competição se faz de forma imperfeita, prejudicial no curto prazo aos produtores rurais e, no médio e longo prazo, às empresas e consumidores. No entanto, começa a se observar mudanças significativas neste mercado, onde o aumento na demanda por madeira, sem a correspondente oferta, tem provocado elevações nos preços. O diferencial deste tipo de projeto comparado com o agrícola, é que o aumento nos preços não reflete imediatamente no aumento da oferta, pelo fato de que do plantio à colheita leva-se, pelo menos, de seis a sete anos. Daí se acreditar que estes preços continuarão subindo por, no mínimo, mais seis anos.Com isso, este colapso na oferta, popular “apagão florestal”, está provocando mudanças profundas e positivas no mercado, valorizando a madeira e aumentando a atratividade, o que é benéfico para todos os agentes econômicos envolvidos, como produtor, empresa e consumidor. Como alteração estrutural, pode dizer que vem ocorrendo o repasse da atividade florestal aos produtores rurais, reduzindo assim a monocultura extensiva e seus impactos ao ambiente e a população rural. Geralmente, este repasse tem sido feito através de uma parceria entre empresas florestais e produtores rurais, denominada de fomento florestal.Além de tudo isso, é possível destacar ainda como aspectos positivos da eucaliptocultura o fato de que, por ser uma espécie exótica não há tanta restrição legal quanto ao seu corte. Pode ser plantada em diversos locais e escala e utilizada para produzir lenha, carvão, celulose, moirões, escoras, postes, dormentes, desdobros, móveis, construção, apicultura, óleos e taninos e quebra-ventos. Mesmo diante de tantos benefícios das plantações florestais para a nação, estranhamente não faltam espaços para críticas que comentaremos abaixo, que enquanto construtivas são bem vindas, porém do contrário, devem ser rechaçadas veementemente.As principais tiranias ao eucalipto e a eucaliptocultura alegam que ele é uma espécie exótica, piora o déficit hídrico do solo, reduz a fertilidade e o pH do mesmo, afugenta a fauna, as plantações formam grandes latifúndios e monocultura, apresenta pouca contribuição na geração e formação da renda e emprego, provocam o êxodo rural e reduzem o valor da propriedade rural.No que se refere às questões de natureza ambiental apontadas acima, vale ressaltar que por razões éticas, não hesitaremos aprofundar quaisquer comentários técnicos, mas apenas discuti-los do ponto de vista político e econômico. Também que não se faz, logicamente, qualquer comparação entre as plantações e as florestas nativas. No entanto, fazem-se algumas comparações com as culturas agrícolas e pastagens, apesar de não haver necessidade para isso, pois o Brasil é um país continental com grande ociosidade de terras, havendo espaço e recursos naturais para todas. Antecipando, afirmamos que os benefícios das plantações florestais superam em muito os daqueles plantios e pastagens. Além disso, gostaríamos de esclarecer ao amigo leitor, que na ciência natural os fenômenos são complexos e dinâmicos, não se trata de algo exato, daí dizer que os efeitos de uma ação sobre os meios bióticos e abióticos são de difíceis diagnósticos, mensuração e prognóstico. Então quando vemos leigos falando com propriedade de determinados efeitos da eucaliptocultura sobre o ambiente, nos indignamos, pois nem os maiores especialistas, respeitados internacionalmente, muitas vezes, hesitam afirmar a respeito.Tal como o eucalipto, praticamente, toda a nossa base alimentar é constituída de espécies exóticas, como o arroz, milho, feijão, trigo, soja, abacaxi, café, etc., além do mais, num mundo irmanamente globalizado, não faz sentido nenhum levante de xenofobia, mas sim de confraternização entre os povos e culturas.No tocante a parte hídrica, o eucalipto é taxado como uma espécie consumidora de grande quantidade de água. A titulo de curiosidade, o leitor deve pesquisar e comparar o consumo de água para cada unidade produzida de carne, cana-de-açúcar, batata, milho, soja, etc, e verá quem realmente é a verdadeira bomba hidráulica vegetal. De qualquer forma, seria leviano de nossa parte afirmar com toda propriedade que o eucalipto reduz ou não a quantidade de água no solo, alterando a vazão dos cursos d´água, pois isto é inerente a qualquer cultura e o que está em jogo é o manejo adequado da microbacia. O certo é que o eucalipto, por ser uma espécie de rápido crescimento, apresenta um gasto energético alto e daí a necessidade de se hidratar, mas podemos garantir que dificilmente uma outra espécie seria tão eficiente no uso deste recurso quanto ele. Por isso que em regiões de maior precipitação, o consumo e o crescimento florestal tendem a ser maior.Mais importante é dizer que em regiões áridas, onde a silvicultura tem sido viável, só se consegue agricultar, se implantar um conjunto ostensivo de irrigação, consumindo quantidades significativas de água. Assim, fica a pergunta, onde o amigo leitor viu uma plantação florestal sendo irrigada conforme se vê na agricultura? Quanto à redução da vazão, a principal atitude a tomar é simplesmente fazer cumprir a legislação florestal que proíbe qualquer tipo de plantação comercial num raio de 50 metros das nascentes e, nas áreas consideradas de recarga, sugere-se orientar os produtores a manejarem suas plantações sob técnicas conservacionistas do solo, de forma a não expô-lo num nível que prejudique o estoque de água no solo e no lençol freático. Em resumo, podemos afirmar que o balanço hídrico das plantações florestais é positivo em relação ao das agrícolas em razão do aumento da infiltração e da redução do deflúvio. Assim, por mais que as plantações florestais possam aumentar a evapotranspiração, isto é bem menor que a quantidade de água que ela estocou no solo. Em relação a redução da fertilidade e acidez do solo, só gostaríamos de colocar o seguinte, das plantações florestais apenas se explora a madeira, composto orgânico formado por moléculas de carbono, oxigênio e hidrogênio, retiradas do ar pelo processo da fotossíntese, tal que se a exploração ocorrer após a rotação ecológica e se as cascas do tronco forem deixadas no campo, dificilmente ocorreria um empobrecimento do solo, pelo contrário, vai é melhorar devido a  reciclagem dos nutrientes absorvidos das camadas mais profundas pelas raízes pivotantes e liberados com a exsudação e com a decomposição da matéria orgânica (folhas, cascas, etc) que cai sobre o solo. Isso explica parte do interesse dos sojicultores em adquirir terras que outrora foram reflorestadas. Vários estudos demonstram que, com o reflorestamento, a fauna tem retornado nas propriedades. Uma das razões é devido às empresas possuírem grandes extensões de florestas nativas e plantadas, além de programas de educação ambiental visando a proteção dos animais e, à medida que os reflorestamentos vão se deslocando para as áreas dos produtores rurais e estes vão se conscientizando, o resultado não vai ser diferente, ou seja o reaparecimento e aumento da fauna. Certamente isto não ocorreria em áreas agrícolas, em razão do intenso movimento de pessoas e máquinas, uso de defensivos químicos e, am alguns casos, queimadas.No tocante a monocultura extensiva, regime que independe da espécie e da atividade, esclarecemos que isto é conseqüência natural dado o contexto em que os reflorestamentos se iniciaram; prejudicial para todos, pois não há nada de estratégico as indústrias serem latifundiárias; e são evolutivas, no futuro os produtores, certamente, abastecerão boa parte do consumo. As razões disso são que, a madeira de reflorestamento apresenta baixo coeficiente preço sobre peso específico em razão de ser um produto pesado e de baixo valor comercial. Esta condição, muito peso para pouco preço, faz com que o valor de uma carga de caminhão seja relativamente baixo, quase o seu custo de transporte. Isto forçaria a localização dos reflorestamentos próximos da indústria consumidora para que se viabilize o projeto. Sendo que a instalação de um projeto industrial exige altos investimentos iniciais, o que requer um nível elevado de produção para que sejam diluídos seus custos por unidade produzida, levando a formação de grandes empreendimentos florestais, operando em economia de escala.Desta forma, tudo isso, baixa rentabilidade e atratividade de até pouco tempo atrás, coeficiente preço/peso específico, exigência de elevado investimento inicial, produção em escala e obrigação ao auto-suprimento, forçou as empresas florestais a adquirirem grandes quantidades de terras (latifúndios) e formarem, inexoravelmente, extensas áreas florestadas (monoculturas). Neste sentido, o latifúndio, a monocultura e os grandes maciços florestais localizados no entorno das empresas dificultaram a existência de outros produtores e consumidores de madeira próximos, eliminando as possibilidades de concorrência, de aumento nos preços da madeira, levando a constituição de monopólios naturais.Porém, com as mudanças no mercado conforme descritas, a tendência é que boa parte do abastecimento fique a cargo dos produtores, que de fato deveria ter sido desde o início. No entanto prezado leitor, quem realmente está bancando o reflorestamento para os produtores são as empresas florestais com seus programas de fomento, pois os públicos têm sido tímidos. Apesar de elas estarem desempenhando muito bem estes programas, o problema é que eles são onerosos, foge do core business delas e as obriga se aventurar numa engenharia financeira que não as competem, mas sim aos agentes financeiros que ainda estão sonolentos a este novo e fantástico eldorado florestal.Com relação a emprego, tem sido dito que os reflorestamentos geram desemprego, favorecendo o êxodo rural. Calúnia como esta chega a ser bizarra. A título de contrastar isto, prezado leitor, informamos-lhe que um dos entraves da expansão do reflorestamento em várias regiões se deve a falta de mão-de-obra, pois principalmente para as montanhosas, onde é praticamente impossível mecanizar a maior parte das operações, e sendo estas intensivas em trabalho, o que tem sido narrado por produtores é que, mesmo querendo reflorestar, não encontram gente para trabalhar. Talvez para as regiões de topografia mais plana, o processo de mecanização, pode acarretar num menor uso de mão-de-obra. Mas isto é uma conseqüência natural do nosso sistema econômico, que exige progresso tecnológico, no entanto há de se notar as vantagens disso para a competição e para o trabalhador, pois sendo mais competitiva a empresa, maior a chance de continuar empregado e melhores as condições de trabalho, pois se há 30 anos ele operava uma ferramenta manual (machado) nas operações florestais, hoje ele dirige uma máquina segura, confortável e ergonômica (harvester). Não ignoramos o fato de a mecanização provocar o desemprego, mas temos que entender que as empresas precisam evoluir, reduzir custos e conquistar mais e novos mercados, com isso crescer e contratar mais mão-de-obra, certamente boa parte daquelas que outrora fora dispensada, e que agora encontrará condições mais humanas de trabalho. Atualmente, culpar o reflorestamento pelo êxodo rural é repugnante, pois podem escrever, é ele quem está invertendo o êxodo causado pela nova agricultura, pois com a expansão e o surgimento de novos projetos florestais, o Brasil será, mesmo com algumas pessoas e instituições tentando prejudicar, o maior produtor florestal do mundo, o que vai demandar uma quantidade enorme de madeira, conseqüentemente mais áreas reflorestadas e mais emprego.  Existem muitas áreas ociosas, degradadas e mal aproveitadas no Brasil, onde se poderia investir em reflorestamentos. Para estes locais, o eucalipto é uma excelente opção econômica, ambiental e social. Naturalmente, ele valorizará as terras das propriedades rurais, principalmente as localizadas em regiões montanhosas.Por isso, sabemos que não é só privilégio das plantações florestais os impactos negativos advindos, mas sim de qualquer ação antrópica, então o que nos cabe é analisar e decidir sobre os custos e benefícios delas, para saber se determinada atividade pode ou não ser implantada e, se sim, quando, como, onde e quem fazer, porém nunca, insanamente, proibi-la e rotulá-la sem quaisquer fundamentos. Finalmente, meu paciente leitor, não queremos alardear que o eucalipto é a panacéia para todos os nossos problemas e nem fazer apologia a ele, mas garantimos que ele é o elixir que faltava para a sobrepujança do agronegócio para a região centro-sul brasileira e é a melhor opção para reduzir a pressão sobre as florestas nativas da região norte. No entanto, querer impedir o crescimento da eucaliptocultura no Brasil é uma traição às esperanças de uma aurora para uma grande parcela do nosso sofrido povo brasileiro, principalmente os que vivem no meio rural, desiludidos de quaisquer perspectivas de desenvolvimento. Ninguém segura o meu Brasil Florestal. OBRIGADO.

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